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Com fundamento, cito uma das célebres afirmações do meu querido pai El-Hage Aliu Assimiu Jalo:

"Aquele que diz a verdade não merece punição!"

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"We will not enjoy peace without security, we will not enjoy security without peace, and we will not enjoy either without respect for human rights." 

(see A/59/2005)



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Opiniões/reflexões
Opiniões/reflexões

  BOAVENTURA SOUSA SANTOS, PhD

Director do Centro de Estudos Sociais, Laboratório Associado, da Universidade de Coimbra

Charlie Hebdo: uma reflexão difícil, 14/01/2015 - 05:19

Não estamos perante um choque de civilizações, até porque a cristã tem as mesmas raízes que a islâmica. Estamos perante um choque de fanatismos, mesmo que alguns deles não apareçam como tal por nos serem mais próximos.

O crime hediondo que foi cometido contra os jornalistas e cartoonistas do Charlie Hebdo torna muito difícil uma análise serena do que está envolvido neste ato bárbaro, do seu contexto e seus precedentes e do seu impacto e repercussões futuras. No entanto, esta análise é urgente, sob pena de continuarmos a atear um fogo que amanhã pode atingir as nossas consciências. Eis algumas das pistas para tal análise.

 A luta contra o terrorismo, tortura e democracia. Não se podem estabelecer ligações diretas entre a tragédia do Charlie Hebdo e a luta contra o terrorismo que os EUA e seus aliados têm vindo a travar desde o 11 de setembro de 2001. Mas é sabido que a extrema agressividade do Ocidente tem causado a morte de muitos milhares de civis inocentes (quase todos muçulmanos) e tem sujeitado a níveis de tortura de uma violência inacreditável jovens muçulmanos contra os quais as suspeitas são meramente especulativas, como consta do recente relatório presente ao Congresso norte-americano. E também é sabido que muitos jovens islâmicos radicais declaram que a sua radicalização nasceu da revolta contra tanta violência impune. Perante isto, devemos refletir se o caminho para travar a espiral de violência é continuar a seguir as mesmas políticas que a têm alimentado como é agora demasiado patente. A resposta francesa ao ataque mostra que a normalidade constitucional democrática está suspensa e que um estado de sítio não declarado está em vigor, que os criminosos deste tipo, em vez de presos e julgados, devem ser abatidos, que este facto não representa aparentemente nenhuma contradição com os valores ocidentais. Entramos num clima de guerra civil de baixa intensidade. Quem ganha com ela? Certamente não o partido Podemos em Espanha ou o Syriza na Grécia.

 A liberdade de expressão. É um bem precioso mas tem limites, e a verdade é que a esmagadora maioria deles são impostos por aqueles que defendem a liberdade sem limites sempre que é a "sua" liberdade a sofrê-los. Exemplos de limites são imensos: se em Inglaterra um manifestante disser que David Cameron tem sangue nas mãos, pode ser preso; em Franças, as mulheres islâmicas não podem usar o hijab; em 2008 o cartoonista Maurice Siné foi despedido do Charlie Hebdo por ter escrito uma crónica alegadamente antissemita. Isto significa que os limites existem, mas são diferentes para diferentes grupos de interesse. Por exemplo, na América Latina, os grandesmedia, controlados por famílias oligárquicas e pelo grande capital, são os que mais clamam pela liberdade de expressão sem limites para insultar os governos progressistas e ocultar tudo o que de bom estes governos têm feito pelo bem-estar dos mais pobres. Aparentemente, o Charlie Hebdo não reconhecia limites para insultar os muçulmanos, mesmo que muitos doscartoons fossem propaganda racista e alimentassem a onda islamofóbica e anti-imigrante que avassala a França e a Europa em geral. Para além de muitos cartoons com o Profeta em poses pornográficas, um deles, bem aproveitado pela extrema-direita, mostrava um conjunto de mulheres muçulmanas grávidas, apresentadas como escravas sexuais do Boko Haram, que, apontando para a barriga, pediam que não lhes fosse retirado o apoio social à gravidez. De um golpe, estigmatizava-se o islão, as mulheres e o Estado social. Ao longo dos anos, a maior comunidade islâmica da Europa foi-se sentindo ofendida por esta linha editorial, mas igualmente foi pronta no seu repúdio deste crime bárbaro. Devemos, pois, refletir sobre as contradições e assimetrias na vida vivida dos valores que cremos serem universais.

 Tolerância e "valores ocidentais". O contexto em que o crime ocorreu é dominado por duas correntes de opinião, nenhuma delas favorável à construção de uma Europa inclusiva e intercultural. A mais radical é frontalmente islamofóbica e anti-imigrante. É a linha dura da extrema-direita em toda a Europa e da direita, sempre que se vê ameaçada por eleições próximas (o caso de Antonis Samara na Grécia). Para esta corrente, os inimigos da nossa civilização estão entre nós, odeiam-nos, têm os nossos passaportes, e a situação só se resolve vendo-nos nós livres deles. A outra corrente é a da tolerância. Estas populações são muito distintas de nós, são um fardo, mas temos de as "aguentar", até porque nos são úteis; no entanto, só o devemos fazer se elas forem moderadas e assimilarem os nossos valores. Mas o que são os "valores ocidentais"? Depois de muitos séculos de atrocidades cometidas em nome deles dentro e fora da Europa – da violência colonial às duas guerras mundiais –, exige-se algum cuidado e muita reflexão sobre o que são esses valores e por que razão, consoante os contextos, ora se afirmam uns ora se afirmam outros. Por exemplo, ninguém põe hoje em causa o valor da liberdade, mas já o mesmo não se pode dizer dos valores da igualdade e da fraternidade. Ora, foram estes dois valores que fundaram o Estado social de bem-estar que dominou a Europa democrática depois de Segunda Guerra Mundial. No entanto, nos últimos anos, a proteção social, que garantia níveis mais altos de integração social, começou a ser posta em causa pelos políticos conservadores e é hoje concebida como um luxo inacessível para os partidos do chamado "arco da governabilidade". A crise social causada pela erosão da proteção social e pelo aumento do desemprego, sobretudo entre jovens, não será lenha para o fogo do radicalismo por parte dos jovens que, além do desemprego, sofrem a discriminação étnico-religiosa?

O choque de fanatismos, não de civilizações. Não estamos perante um choque de civilizações, até porque a cristã tem as mesmas raízes que a islâmica. Estamos perante um choque de fanatismos, mesmo que alguns deles não apareçam como tal por nos serem mais próximos. A história mostra como muitos dos fanatismos e seus choques estiveram relacionados com interesses económicos e políticos que, aliás, nunca beneficiaram os que mais sofreram com tais fanatismos. Na Europa e suas áreas de influência é o caso das cruzadas, da Inquisição, da evangelização das populações coloniais, das guerras religiosas e da Irlanda do Norte. Fora da Europa, uma religião tão pacífica como o budismo legitimou o massacre de muitos milhares de membros da minoria tamil do Sri Lanka; do mesmo modo, os fundamentalistas hindus massacraram as populações muçulmanas de Gujarat em 2003; é também em nome da religião que Israel continua a impune limpeza étnica da Palestina e que o chamado Emirado Islâmico massacra populações muçulmanas na Síria e no Iraque. Várias perguntas sem resposta por agora. A defesa da laicidade sem limites numa Europa intercultural, onde muitas populações não se reconhecem em tal valor, será afinal uma forma de extremismo? Os diferentes extremismos opõem-se ou articulam-se? Quais as relações entre os jihadistas e os serviços secretos ocidentais? Por que é que os jihadistas do Emirado Islâmico, que são agora terroristas, eram combatentes de liberdade quando lutavam contra Kadhafi e contra Assad? Como se explica que o Emirado Islâmico seja financiado pela Arábia Saudita, Qatar, Kuwait e Turquia, todos aliados do Ocidente? Uma coisa é certa, pelo menos na última década, a esmagadora maioria das vítimas de todos os fanatismos (incluindo o islâmico) são populações muçulmanas não fanáticas.

O valor da vida. A repulsa total que sentimos perante estas mortes deve-nos fazer pensar por que razão não sentimos a mesma repulsa perante um número igual ou muito superior de mortes inocentes em resultado de conflitos que, no fundo, talvez tenham algo a ver com a tragédia do Charlie Hebdo? No mesmo dia, 37 jovens foram mortos no Iémen num atentado bombista. No verão passado, a invasão israelita causou a morte de 2000 palestinianos, dos quais cerca de 1500 civis e 500 crianças. No México, desde 2000, foram assassinados 102 jornalistas por defenderem a liberdade de imprensa e, em Novembro de 2014, 43 jovens, em Ayotzinapa. Certamente que a diferença na nossa reação não pode estar baseada na ideia de que a vida de europeus brancos, de cultura cristã, vale mais que a vida de não europeus ou de europeus de outras cores e de culturas assentes noutras religiões. Será então porque estes últimos estão mais longe de nós ou conhecemo-los pior? Será porque os grande media e os líderes políticos do Ocidente trivializam o sofrimento causado a esses outros, quando não os demonizam ao ponto de nos fazerem pensar que eles não merecem outra coisa?

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 IV Texto: (i) As contradições da medicina actual (moderna) com alguns usos e costumes e praticas tradicionais: Práticas nefastas–ceremónias de toka chouro, kanta pó, kussundé, kanssaré, iniciação feminina, etc. (ii) Causas da desvalorização das culturas tradicionais nos centros urbanos ou nas cidades.

Autor: Amido Jalo, Bacharelato em Ciências de Educação e Pedagogia, pela ENSTT, Bacharelato em Ciência Sociais e Políticas, pela CENSF e Licenciando em Sociologia pela ULG

Para elaborar uma reflexão sobre as contradições da medicina actual (moderna) com alguns usos e costumes e praticas tradicionais: Práticas nefastas – ceremónias de toka chouro, kanta pó, kussundé, kanssaré, iniciação feminina, etc. Gostaria de começar por ver o conceito medicina e a sua evolução:

A medicina tradicional evoluiu e deu lugar à medicina moderna no final do século XV. A medicina moderna se carateriza pela prevenção e procura por proporcionar o alívio rápido e imediato da dor e dos sintomas. O recurso a químicos é comum, ao contrário da medicina tradicional que se baseia nos recursos que a própria natureza nos oferece. Por este motivo a medicina moderna traz alguns efeitos colaterais que não surgem na medicina tradicional, fruto da utilização de produtos sintetizados ou tratamentos químicos agressivos. Antes da medicina moderna, a maioria dos problemas de saúde eram associados a problemas do foro espiritual, ligado ao paranormal. Isto porque não havia o conhecimento do funcionamento do corpo humano e das causas para poder fazer um diagnóstico.

A hipótese alternativa que gostaria de discutir neste trabalho está centrada no argumento de que as formas e as práticas de saber ditas ‘tradicionais’ usos e costumes e praticas tradicionais: práticas nefastas – ceremónias de toka chouro, kanta pó, kussundé, kanssaré, iniciação feminina detêm realmente um estatuto de saber legítimo, o qual é reafirmado pela grande afluência de diferents grupos étinicos. Apesar das repetidas tentativas de epistemicídio de que estas formas de saber sobre saúde têm sido alvo, tal facto poderá ajudar a explicar a enorme vitalidade e persistência dessas práticas, quer no período colonial, quer nos dias de hoje. Mas muitos outros aspectos têm de ser explorados. O tema central deste texto - a interrogação sobre a relação dicotómica entre prática nefasta e ceremónia cultural e local. O que é uma prática nefasta? Toda e quelaquer ceremónia é considerada como uma prática nefasta?

Respondendo a primeira interrogação, é que as práticas nefastas são atos praticados por um individuo ou grupo de individuos que ameaçam e ferem fisicamente e moralmente a dignidade humana. Ou seja, são conjunto de práticas que afetam negativamente o ser humano i.e. a nivel de saúde da pessoa, a nivel do seu estatuto social, a nivel da sua dignidade moral e a nivel da sua cultura.

E relativamente a segunda questão nem todas as práticas culturais (ceremónias) são nefastas, alias depende da sua forma de realização e os procedimentos que se desenvolvem durante a ceremónia. Algumas ceremónias são genuinas e naturalmente organizadas e por conseguintes ricas em conhecimentos culturais. Com efeito são consideradas práticas culturais e de ciência. Assim  essas ceremónias seguem escrupolosamente os conselhos dos técnicos da saúde por exemplo. Mas por outro lado quando se realiza a ceremónia de toca chouro com condições sanitarias precarias, ai, sim, corremos o risco de aumentar a propagação de virus de cólera na nossa sociedade com os seus efeitos nefastos. Com esta prática estamos perante uma prática nefasta.

A mesma corrente de pensamento é aplicavél para ceremónia de iniciação das nossas raparigas, do toca chouro, do canta pó, do cussundé, do canssaré, etc.

Para finalizar todas as práticas ou comportamentos de risco que não levam em consideração as questões que afectam negativamente os seres humanos são consideradas nefastas e condenaveis a todos os titulos e são susceptíveis a criminalização porque com estas práticas o ser humano torna muito vulnerável na sua vivência do dia-a-dia.  

Relativamente, a questão referente as causas da desvalorização das culturas tradicionais nos centros urbanos ou nas cidades. É que para fazer essa abordagem é bom ilustrar que a cultura é um conceito que está sempre em desenvolvimento, pois com o passar do tempo ela é influenciada por novas maneiras de pensar inerentes ao desenvolvimento do ser humano.

Também há que considerar de que genericamente, a cultura é todo aquele complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo homem não somente em família, como também por fazer parte de uma sociedade como membro dela que é. Cada localidade (leia-se país, cidade, bairro, comunidade, etc.) tem a sua própria cultura, que é influenciada por vários fatores. A cultura na zona rural é marcada pela boa disposição e alegria, e isso se reflete também na música, que também faz parte da cultura dos habitantes. No caso da cultura no centros urbanos, é influênciada pela dinámica das relações económicas ou seja não é exatamente como acontece na tabanca (campo) com espirito de solidadriedade entre as comunidades e dentre as familias ao passo que na cidade é o racionalismo dos interesses que rege muitas das vezes os padrões da convivência social e concomitantimente as normas culturais. Cultura também é definida em ciências sociais como um conjunto de ideias, comportamentos, símbolos e práticas sociais, aprendidos de geração em geração através da vida em sociedade. Seria a herança social da humanidade ou ainda de forma específica, uma determinada variante da herança social. A cultura é também um mecanismo cumulativo porque as modificações trazidas por uma geração passam à geração seguinte, onde vai se transformando perdendo e incorporando outros aspetos  procurando assim melhorar a vivência das novas gerações.

É muito frequente a utilização do conceito de cidade em conjunto com outros termos, por exemplo: A desvalorização das culturas tradicionais nos centros urbanos é um dos fenômenos muito mais abrangente do que suas múltiplas definições. Como um fenômeno complexo capitalista e suas diversas mudanças mundiais, uma coisa que não deve passar despercebida por todos nós é a Cultura. Extremamente importante para nossa formação e conhecimento.

A heterogeneidade da indústria cultural urbana é percebida não somente no grau de diversidade cultural e territorial, mas por focar conteúdos de culturas estrangeiras em detrimento do conteúdo cultural do interior. Quando ocorre em nossas mídias uma exposição de nossos valores e identidades, há o abarcamento de interesse comercial que interfere no que deve ser mostrado para adquirir audiência.

O meio urbano tem características específicas que contrastam com o meio rural, como por exemplo: densidade populacional, infra-estrutura moderna (vias públicas, transportes, escolas, hospitais etc.), áreas residenciais, comerciais e industriais, opções de lazer e entretenimento, ofertas culturais, hábitos particulares de vida e azáfama própria das cidades. O modo de vida urbano também é marcado pela agitação, stress, alimentação baseada em fast-food e alguns problemas socioculturais como criminalidade, conflitos raciais, pobreza, desemprego, entre outros. Um indivíduo urbano tem um estilo de vida próprio da cidade. No sentido figurado, é caracterizado como cortês, afável, bem-educado e civilizado. Ou seja uma cidade caracteriza-se por um estilo de vida particular dos seus habitantes, pela urbanização (infraestrutura, organização, serviços de transporte etc), pela concentração de atividades econômicas dos setores secundário, terciário etc. As atividades primárias (agricultura, pecuária) são desenvolvidas na zona rural.

Nas cidades vive-se num sistema econômico-político-cultural capitalista e o surgimento da sociedade capitalista transformou as manifestações culturais em produto. Este cenário desencadeou a formação da indústria cultural, que é o conjunto de empresas, instituições  e redes de mídia que produzem, distribuem e transmitem conteúdo artístico – cultural com o objetivo de adquirir lucros.  Um forte exemplo de desvalorização das culturas tradicionais nos contro urbanos é a televisão que apresenta pontos positivos em possuir ótima cobertura geográfica, penetração de público e variedade de conteúdo em vários horários, mas ao mesmo tempo apresenta conteúdos sensacionalistas e que escapam do consciente do expectador, cujo indivíduo possa vir a entrar em estado de alienação.

Assim como em outros aspectos, a cultura sofre a interferência do acelerado processo de globalização. Uma vez que a dispersão da cultura não ocorre de maneira igual no mundo globalizado, os países que controlam a produção cultural em massa acabam por instaurar um padrão comportamental e produtivo nas grandes cidades.

Considerações finais

A principal característica da cultura é o mecanismo adaptativo que é a capacidade, que os indivíduos têm de responder ao meio de acordo com mudança de hábitos, mais até que possivelmente uma evolução biológica. A Cultura é fortemente influenciada de diversas maneiras que, em alguns casos, chega a se alterar e absorver aspectos de outras culturas principalmente nos centros urbanos, desvalorizando assim a cultura tradicional.

A medicina sendo ela tradicional ou moderna, tem um único propósito: a preservação da saúde do ser humano. Embora sejam vertentes diferentes da medicina, uma complementa a outra na sua essência, e são indiscutivelmente dois lados que têm muito a aprender um com o outro.

Práticas nefastas são atos praticados por um individuo ou grupo de individuous que ameaçam e ferem fisicamente e moralmente a dignidade humana ou seja são conjunto de práticas que afetam negativamente a saúde humana e o seu estatuto social.

As formas e as práticas de saber ditas ‘tradicionais’ usos e costumes e praticas tradicionais: práticas nefastas – ceremónias de toca chouro, canta pó, cussundé, canssaré, iniciação feminina detêm realmente um estatuto de saber legítimo, o qual é reafirmado pela grande afluência de diferents grupos étinicos. E nem todas as práticas culturais (ceremónias) são nefastas, alias depende da sua forma de realização e os procedimentos que se desenvolvem durante a ceremónia. Algumas ceremónias são genuinas e naturalmente organizadas e por conseguintes ricas em conhecimentos culturais. Com efeito são consideradas práticas culturais e de ciência.

Através desta gostaria de lançar um apelo, uma sugestão e/ou uma recomendação a todos os guineenses e aos académicos, aos politicos e aos estudantes em primeiro lugar que passemos a cogitar profundamente sobre como mobilizar e reforçar os esforços nacionais e internacionais para pôr fim à MGF e a outras práticas tradicionais nefastas. Sugiro que estas questões devem dominar o nosso debate ao longo dos proximos tempos. Também essa questão deve ser colocada na agenda de desenvolvimento do nosso País.

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Bibliografia

Hobsbawm, E. (1988), «Introduction: inventing tradition» in E. Hobsbawm, Ranger, T. (eds.), The invention of tradition. Cambridge: Cambridge University Press, 1-14.

Honwana, Alcinda M.R.M. (1996), Spiritual agency and self-renewal in southern Mozambique. Ph.D. dissertation, School of Oriental and African Studies. London: University of London.

World Bank (1994), Better health in Africa: Experience and lessons learned. Washington: The World Bank.

WHO (1978), Primary health care. Geneva: World Health Organization.

Xaba, T. (2000), Development an its discontents - the marginalization of indigenous medicines in South Africa. Draft paper for the Coimbra meeting on Reinventing Social Emancipation. Coimbra, 2000 (mimeo).

 


 

 III Texto: Estatuto civil na Guiné-Bissau

Autor: Amido Jalo, Bacharelato em Ciências de Educação e Pedagogia, pela ENSTT, Bacharelato em Ciência Sociais e Políticas, pela CENSF e Licenciando em Sociologia pela ULG

Em resposta ao desafio que o meu colega e irmão Dr. El-Haje Amadila Ba Djalo me lançou em elaborar uma abordagem sobre o Estatuto Civil na Guiné-Bissau, sem reservas decidi enfrentar esta demanda com frontalidade e humildade, mesmo sabendo das reações e os interesses que esta questão vai merecer/mexer; ou seja os obstaculos que estão pelo caminho. Abracei esse desafio para assim assumir partilhar a minha reflexão, os meus sentimentos e até a minha revolução silênciosa sobre este assunto.  Mas aceitei este desafio “provocação” sobre tudo porque como disse e bem "The activist is not the one who says that the river is dirty, but he who cleans the river." Ross Perot[1], Empresário Americano. E no meu caso, por conscientemente estar inconformado com o tratamento discriminatório que centenas de milhares de Bissau guineenses são alvo nas suas vivências quotidianas. Mais incumbiu-me, esta tarefa, justamente, pela permanente inquietação que vive a minha personalidade perante actos que afrontam a justiça social e de alienação aos seus valores morais e direitos civicos, e assim,  consubstanciada pelo conformismo de uma boa parte da comunidade deste País (GB) sobre a desigualdade em termo do tratamento digno no que diz respeito a Estatuto Civil, i.e. solteiro(a), casado(a), divorciado(a), viuvo(a).

Neste caso, recorrendo ao facto de que uma das fontes do direito mais premente e útilizada é o costumeiro/consuetudinário; com efeito, ouso assumir de que uma das mais graves ou se não pióres violações dos direitos humanos é aquela que consiste em violar o direito da identidade de uma pessoa, violentando assim a dignidade moral do cidadão isto é proibi-lo de ser dignatario perante a sociedade em geral e em primeiro lugar perante a sua propria familia. Por outras palavras o direito a um estatuto condigno é no minimo o principio basico e funcional de uma familia e por conseguinte de um Estado que se pretende ser Estado de Direito.  

E, como é sobejamente sabido que as pessoas que representavam a Igreja cristã tinham os seus propósitos que visavam, efectivamente, a ajudar na afirmação e consolidação do dirigismo[2] colonial de uma forma pacífica através de um processo de aculturação progressiva dos nativos das respectivas colonias. E não representavam os nobres interesses da Igreja cristã/catolica, mas sim os interesses das ditaduras em Portugal.

Constata-se que a grande maioria dos guineenses é geralmente e sem fundamento, considerada uma “comunidade de solteiros” por uma simples razão porque o hábito veio duma concordata estabelecida entre o Governo português e a Igreja católica/cristã que estabelece de que a união de facto (casamento) entre os seus seguidores é automaticamente oficial. Ou seja o casamento da Igreja é por lei reconhecido, e com efeito oficial. Com que contrapartida?! O mais revoltante é que mesmo depois da caducidade desta concordata, esta prática ou seja este fenômeno continua a afectar a maioria da população da Guiné-Bissau por desconhecimento ou por negligência, embora sabe-se que o desconhecimento da lei não iliba/beneficia a ninguem.  

Ora, o casamento/matrimónio é um conceito que tem as suas variáveis que são tidas em consideração através das realidades de cada sociedade, porquanto o matrimónio é moldado dentro de uma determinada comunidade com os seus efeitos resultantes.

Em jeito de conspiração levantam-se a falsa questão do dilema entre poligamia e monogamia, mas, numa prespectiva lógica é justamente, ali que reside a solução e não o problema como se faz passar perante os incautos e pouco entendidos na matéria. 

Anotamos um triste exemplo do caso da segunda figura do País Presidente da ANP, um dos orgãos da soberania, com uma personalidade incontornável na Guiné-Bissau foi vitima deste fenômeno onde ele inconformado com a situação denunciou publicamente numa das sessões  parlamentares dizendo: que nos seus documentos consta que ele é solteiro! Cogitemos profundamente nas cimeiras, nas conferências regionais e internacionais durante a marcação das viagens e reservas de hoteis é sempre solicitado o passaporte do cliente através dos serviços protocolres, e ali consta que o Presidente ANP em representação do Presidente da República da Guiné-Bissau é solteiro e, acresce ainda que ele é um dos académicos mais esclarecidos do nosso País. Tivemos e estamos a ter Presidente da República solteiro, Presidente da ANP solteiro, governantes solteiros, academicos solteiros, cientistas solteiros, País solteiro… uma república de solteiros.

Referêncio o caso do Quenia em 2003, um grupo de mulheres sairam pelas ruas a exigir o reconhecimento das casas um, dois, três etc.. (leia-se poligamia). Porque ali entre outras vantagens elas vão poder ter uma familia coesa - conhecer melhor as suas companheiras, os filhos vão conhecer os seus irmãos e vai haver harmonia e solidariedade familiar. Como todos devem saber de que a tão propalada questão do desenvolvimento sustentável vem através de uma sustentabilidade governativa e esta é resultado de ter instituições fortes (sem corruptos e nem corruptores) e por sua vez esta condição só é possivel se temos alicerçados a nossa iniciação pelas bases solidas no seio das nossas familias.    

Um outro exemplo não menos  importante para ilustrar que o estatuto do Presidente Zuma de Africa do Sul é casado e com ou mais de que três mulheres, assim podemos considerar que a legislação sul africana resolveu um grande problema de actualidade que é a questão da catorzinha na Guiné-Bissau (pedofilia reconhecida e insentivada pela nossa sociedade) que está a solar e ruinar milhares de vida das mulhers e adulscentes, e futuros derigentes deste País.

Podemos muito rapidamente e sem exitação nenhuma afirmar com convicção de que com a poligamia se diminui a pedofilia (o fenômeno catorzinha) e a desunião familiar através de casa um, casa dois, casa três, e por ai fora. Também concluir o contrario ou seja com a monogamia aumenta a pedofilia (o fenômeno catorzinha) e a desunião familiar através de casa um, casa dois, casa três, e por ai fora.

Como é de conhecimento de todos ou pelo menos todos devem saber que o que oficializa um acto são os procedimentos devidamente estabelecidos e escrupulosamente seguidos ou implementados através das convenções formalmente assumidas pelas sociedades.

O casamento nas comunidades consideradas, infelizmente, de solteiras na Guiné-Bissau é feito através dum acto genuinamente organizado e naturalmente oficial porque esse acto consiste em que a familia daquele (homem) que pretende casar-se com a auqela (mulher), ambos com as suas respectivas testemunhas (no minimo 3 individuos em cada grupo), o primeiro grupo há de dizer numa voz audível de que em nome de Deus todo Poderoso, em nome da familia do homem e em nome próprio do homem quer que a familia da mulher (os pais) lhes conceda a sua filha para se casar com o homen (nome do pretendente) filho de (nome do pai) e de (nome da mãe).

O segundo grupo também em voz audível responde que nós (os pais e os familiares) da mulher (nome da mulher) filha de (nome do pai da mulher) e de (nome da mãe da mulher) em nome de Deus todo poderoso aceitamos o vosso pedido e consequentemente, concordamos em dar a nossa filha para ela se casar com o vosso filho (nome de homem). Finalmente a pessoa que dirige a ceremónia declara que apartir daquele momento os dois individuos são oficialmente casais – marido e esposa e por último faz-se a oração e depois celebração - festa do casamento. 

Em jeito de encerrar por agora esta abordagem faço um vibrante apelo dizendo que:  

Esta reflexão serve-se para chamar a atenção o povo guineense em geral, as forças vivas deste País, em primeiro lugar, (grupos de pressão) e dizer que já é tempo para inverter o curso perverso do fenômeno catorzinha (pedofilia incentivada e legitimada) na nossa sociedade. Agora é tempo para inverter esta injustiça social (cidadões da primeira e da segunda ou terceira classe) através de inciativas políticas -cunho politico- e legislativas.

Porque os nossos valores estão perdendo espaço e se não houver uma ação urgente, nessa sociedade que se transformou num mundo que se tornou um lugar onde a inversão de valores impera, onde a tradição está a cada dia se deteriorando. Mas somos todos seres humanos filhos e descendentes de Adão e Eva e jamais fugimos das dificuldades impostas, lutamos até o fim. A verdade é que o povo está a mercê de um estado governando por pessoas totalmente gananciosas, e conspiradoras diria: Mas foi o povo (essa maioria) que colocaram eles no poder. Pois é, somos obrigados a escolher com os olhos tapados, ou ficamos vislumbrados e então cometemos esses erros clássicos. E o que resta é a consequências desse vislumbramento.

Não se pode ignorar ou negar que a maioria dos guineenses estão cada vez sendo desvalorizados, e a cultura tradicional está caindo no esquecimento. Para não ser injusto, seria errôneo da minha parte falar isso, afinal temos por outro lado uma juventude (muito insignificante) que tem mantido viva as tradições a partir das influências de uma geração mais antiga. E dessa convivência vamos mantendo a chama acesa. 

Com efeito, precisamos fazer algo, senão vamos ficar sem a nossa dignidade. Precisamos de resistir para a nossa afirmação e manter a nossa tradição cultural viva, resistir para que tanto a maioria bem como a minoria  sejam valorizados, resistir para poder realizar e gozar a nossa existencia e resistir/insistir para mostrar e encontrar solução para o nosso sofrimento.


[1] “O ativista não é aquele que diz que o rio está sujo, mas aquele que limpa o rio.” Ross Perot, Empresário Americano.

[2] Sistema no qual o regime português exercia um poder de orientação ou de decisão em matéria económica


II Texto: Desenvolvimento - desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida

Autor: Amido Jalo,

Bissau, 16-05-2014, 13:52:25

Desenvolvimento - desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida

Depois de um aturado debate na Universidade Lusófona sobre a urbanização,  industrialização e relações económicas.

E, reconhecendo os problemas estruturais que a Guiné-Bissau enfrenta. Tomei a liberdade de abordar o tema: Desenvolvimento - desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida.

Acho, prudente trazer este tema para a consideração dos guineenses, e considero este, entre outros temas como um dos mais candentes e relevantes, neste periodo de redefinição das politicas públicas e que consubstancia na emergência de nova geração de quadros com uma dinâmica sustentada na ciência e conjugada com humildade e vontade de deixar algo de bom e útil para a Guiné-Bissau.

Assim, o desenvolvimento pode ser aplicado a situações objetivas como o desenvolvimento de um país ou de uma cidade. Neste sentido, o desenvolvimento se mede em termos quantitativos ao mesmo tempo que qualitativos já que entram na imagem elementos tais como a quantidade de habitantes de um espaço, a qualidade de vida dessas pessoas, o modo em que o ser humano se integrou ao meio ambiente, as diferentes invenções, entre muitas outras. Aqui é onde entra a ideia de países desenvolvidos frente aos países subdesenvolvidos (aqueles que ainda não contam com todos os elementos considerados essenciais para o bem estar dos habitantes).

Uma outra leitura é que o termo desenvolvimento requere um conceito baseado em muitos campos e sobre muitos assuntos: desenvolvimento humano, desenvolvimento rural, desenvolvimento econômico, desenvolvimento sustentável, etc. E assim, ele possui uma enorme quantidade de vertentes. Como conceito básico, o desenvolvimento sempre é considerado um processo evolutivo, deixando claro que a conotação para o termo dentro do contexto do mesmo é sempre positivo; sempre indicando uma passagem de um estágio inferior a um estágio superior.

Ao contrário do que muitos pensam, desenvolvimento é sinônimo de qualidade, de mudança para a qualidade, não mudança para a quantidade. Sendo a qualidade a característica principal do desenvolvimento. Na área da economia, muitos estudiosos defendem que o desenvolvimento é um incremento nos rendimentos ou nos lucros; um engenheiro já pensa que desenvolvimento é o fato de obter controle sobre certos elementos como, por exemplo, a energia.

O desenvolvimento está também ligado com o crescimento de um país ou de um lugar. Para que se tenha uma melhor ideia sobre o termo neste sentido, a forma de medir termos quantitativos que indicam uma melhoria considerável em relação ao crescimento em vários setores indica, se há crescimento qualitativo, desenvolvimento. Ao referir-se a desenvolvimento humano, deve-se compreender que é um tipo de desenvolvimento sem interrupção e gradativo, que obedece a uma série de normas ou regras e da regularidade. Isto implica que o desenvolvimento é processado por fases que seguem uma sequência invariável, ou seja, a pessoa não pode desviar-se das etapas, mesmo que se possa superar estas fases mais rapidamente (em alguns casos acontece exatamente ao contrário). O processo de desenvolvimento é fruto de toda uma vida. Apenas um exemplo ilustrativo, ninguém, nenhum ser humano pode-se desenvolver totalmente na infância, é preciso passar por todas as etapas da vida para que tenha um desenvolvimento pleno.

O Desenvolvimento Sustentável é um conceito relativamente novo que se aplica fundamentalmente ao desenvolvimento sócio econômico e foi formalizado e usado pela primeira vez em um documento popularizado como Informe Brundtland, um dos tantos frutos do trabalho que leva a cabo a Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas (ONU). O desenvolvimento sustentável permite satisfazer as necessidades das gerações presentes sem que por isso se vejam comprometidas as capacidades das gerações futuras para satisfazer suas necessidades. No entanto, ele não implicará unicamente à preservação em matéria do Meio Ambiente, mas também o aspecto social e o econômico.  

A qualidade de vida é utilizada para determinar o nível de ingresso e comodidade que uma pessoa, um grupo familiar ou uma comunidade possuem em um momento e espaço específico. Assim, esse conceito tem a ver em um sentido com questões estatísticas (isto é, estabelecer o nível de qualidade de vida das populações através da observação de dados específicos e quantificáveis). Quando falamos de qualidade de vida, seja de uma pessoa, de um grupo de pessoas, referimos a todos aqueles elementos que fazem que essa vida seja digna, cômoda, agradável e satisfatória. Nesse caso, os elementos que contam com uma qualidade de vida podem ser emotivos como também materiais ou culturais. Finalmente, neste sentido, a qualidade de vida de uma pessoa é dada em primeiro termo pela possibilidade de viver de maneira agradável com seus pares, principalmente com o grupo que forma sua família e que lhe dá as possibilidades de ter uma identidade (ou seja, uma nacionalidade), educação, que respeitem seus direitos civis, religiosos e de gênero, não ter que suportar situações de agressão, violência ou xenofobia, discriminação, etc.

Considerações finais

Assim, podemos considerar o desenvolvimento como um ramo que, adota uma perspetiva de interdependência entre as dimensões económica, social e política, e ocupa da mecanização generalizada da produção e os seus efeitos resultantes. O estudo das condições necessárias para o acesso dos países não industrializados à revolução industrial ocupou vários autores, nomeadamente os da "teoria da modernização". Nos anos sessenta e setenta do século XX, num contexto histórico em que a maior parte das colónias dos países europeus tinha encontrado a sua independência política, a posição dos estudiosos sobre o desenvolvimento era otimista e via a industrialização como benéfica e recomendável ao progresso dos países do chamado terceiro mundo.

Contudo, a constatação de que as descolonizações não tinham acarretado independência económica para os novos países levou a uma relativização dessa perspetiva, com a inspiração marxista dos anos setenta a denunciarem o cariz interesseiro das ajudas dos países ocidentais à industrialização no terceiro mundo. Atualmente alerta-se, precisamente, para a impossibilidade de transposição mecânica de modelos de desenvolvimento entre países em tudo diferentes.

Então, o objetivo primordial do desenvolvimento sustentável será o de definir por um lado projetos viáveis e pelo outro reconciliar os aspectos econômicos, sociais e ambientais das atividades humanas. Que acabam referectindo na qualidade da vida das pessoas.

Em forma de conclusão, diria que deve existir regras que deverão ser observadas e que constituem as condições do desenvolvimento sustentável como por exemplo: nenhum recurso renovável deverá ser usado a um ritmo superior ao de sua geração, nenhum contaminante deverá ser produzido a um ritmo maior ao que possa ser reciclado, neutralizado ou em seu efeito absorvido pelo meio ambiente e nenhum recurso não renovável deverá ser aproveitado a uma maior velocidade da necessidade para substituir por um recurso renovável utilizado de maneira sustentável.

Referência bibliográfica

Robert Nisbet (History of the Idea of Progress, 1980),

Tom Bottomore (Theories of Modern Capitalism, 1985),

David Booth (World Development, 1985) e, em Portugal, Alfredo Bruto da Costa e Celso Furtado.


 I Texto

Autor: Amido Jalo 

Bissau, 20-05-2014, 16:42:57

Manipulação da opinião pública através da mídia na Guiné-Bissau – reflexos perversos do desenvolvimento tecnológico

Média - conceito e definição  

Ponto de partida para discutir Média: conceito e definição  desconstruir os principais conceitos envolvidos no estudo deste tema, consiste em considerar definição de conceitos e instrumentos de lógica para a leitura crítica do assunto.

O que é média?

Existe a “Verdade” com “V” maiúsculo, tão buscada pelos jornalistas e anciosamente esperada pela sociedade?

Quando a veiculação de informações pela média pode ser considerada ideológica, ou seja, a serviço do poder? […]

Em comunicação, média/mídia - Média (português europeu) ou mídia (português brasileiro)  (um termo derivado do latim medium, meio e media, meios) são os canais ou ferramentas usadas para armazenamento e transmissão de informação ou dados. Mídia muitas vezes é usado como sinónimo de meios de comunicação de massa ou agências de notícias, mas pode se referir a um único meio utilizado para comunicar os conteudos para qualquer finalidade.

Sem ter a pretenção ou seja a possibilidade de abordar este tema com profundidade apresentando modelo de propaganda dos meios de comunicação, documentado com numerosos estudos de caso, extremamente detalhados. E cientes da pretenência deste trabalho de reflexão, gostaria de ilustrar de que um viés social pode ser definido como inclinação ou tendência de uma pessoa ou de um grupo de pessoas que infere julgamento e políticas parciais e, portanto, injustas para uma sociedade tida como um sistema social integral.

Esta abordagem explicita esse viés sistêmico dos meios de comunicação, focado em causas econômicas e estruturais, e não como fruto de uma eventual conspiração criada por algumas pessoas ou grupos de pessoas contra a sociedade.

Assim, podemos constatar a existência de cinco crevos, gerados por esse viés sistêmico, a que todas as notícias são submetidas antes da publicação. Filtros, que combinados distorcem e deturpam as notícias para o atendimento de seus fins essenciais.

1. O Filtro — PROPRIEDADE: - A maioria dos principais meios de comunicação de massa pertence às grandes empresas.

2. O Filtro — FINANCIAMENTO: - Os principais meios de comunicação obtêm a maior parte de sua renda, não de seus leitores, utilizadores e ouvintes mas sim de publicidade (que, claro, é paga pelas grandes empresas). Como os meios de comunicação são, na verdade, empresas orientadas para lucro, ai prevê que se deve esperar a publicação apenas de notícias que reflitam os desejos, as expectativas e os valores dessas empresas que os financiam.

3. O Filtro — FONTE: - As principais informações são geradas por grandes empresas e instituições. Consequentemente os meios de comunicação dependem fortemente dessas entidades como fonte de informações para a maior parte das notícias. Isto também cria uma tendência sistêmico contra a sociedade.

4. O Filtro — PRESSÃO: - A crítica realizada por vários grupos de pressão que procuram as empresas dos meios de comunicação, actua como uma espécie de chantagem velada, para que os grandes meios de comunicação de massa jamais saiam de uma linha editorial consoante com seus interesses, muitas vezes à revelia dos interesses de toda a sociedade.

5. Filtro — NORMATIVO: - As normas da profissão de jornalista calcadas nos conceitos comuns comungados por seus pares, muitas vezes estabelece como prioritário a atenção ao prestígio da carreira do profissional (proporcionalmente ao salário). Prestígio esse obtido pela veiculação de determinada notícia, sempre em detrimento do efeito danoso à sociedade oriundo da manipulação dos fatos (por exemplo o sensacionalismo) com o objetivo de atender o mercado (e também, novamente proporcionar prestígio tanto ao profissional quanto ao canal noticiante, como dito antes).

Considerações finais

Esta análise descreve os meios de comunicação como um sistema de propaganda descentralizado e não conspiratório, mas mesmo assim extremamente poderoso.

Tal sistema é capaz de criar um consenso entre a elite da sociedade sobre os assuntos de interesse público estruturando esse debate em uma aparência de consentimento democrático que atendem aos interesses dessa mesma elite. Isso ocorrendo sempre às custas da sociedade como um todo.

Através desta leitura podemos considerar que o sistema de propaganda que se faz passar nas mídias locais não é conspiratório porque as pessoas que dele fazem parte não se juntam expressamente com o objetivo de lesar a sociedade, mas, no entanto, é isso mesmo que acabam fazendo, infelizmente.

Não consegui testar este trabalho empiricamente, mas tomei pares de eventos que são objetivamente muito semelhantes entre si, excepto que um deles se alinha aos interesses da elite econômica dominante, que se consubstanciam no interesse das grandes empresas, e o outro não se alinha. (Estudo de caso das campanhas eleitorais na Guiné-Bissau e de publicidades e marketing comercial das empresas de telecomunicações).

Cito alguns de tais exemplos para mostrar que nos casos em que um “inimigo oficial” da elite realiza “algo” (tal como o assassinato de algum líder, por exemplo), a imprensa investiga intensivamente e devota uma grande quantidade de tempo à cobertura dessa matéria.

Mas quando é o governo da elite ou o governo de um país aliado que faz a mesma coisa (assassinato de um líder ou coisa ainda pior) a imprensa minimiza e distorce a cobertura da história.

E ironicamente, tal prática é muito bem aplicada a revelia da maior parte dos criticos, de muitos estudiosos, academicos, cientistas sociais e até cidadão comum, que têm sido ignorados ou distorcidos pelos “detentores” (leia-se controladores) dos meios de comunicação social.

E é com preocupação que anoto e aponto também de que há algumas estratégias usadas pelos donos de poder (decision makers) para realizar uma verdadeira “manipulação mental” feita através dos meios de comunicação, contra todos os esforços dos opinion makers,  mas isso já é assunto para uma outra reflexão.

Bibliografia

  • GREGOLIN, Rosário. "Discurso e mídia: a cultura do espetáculo". São Carlos: Editora Claraluz,2004.
  • CONTRERA, Malena. Midia e Pânico: saturação da informação, violência e crise cultural, São Paulo: Annablume.
  • COSTA, Cristina. Ficções, Cultura e Mídias, São Paulo: Senac-SP.
  • DIZARD JR., Wilson. A Nova Mídia, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
  • DORNELLES, Beatriz. Mídia, Imprensa e as Novas Tecnologias, Porto Alegre: EdiPUC-RS.
  • WEBER, Maria Helena. Comunicação e Espetáculos da Política, Porto Alegre: EdUFRGS, 2000.